quarta-feira, 21 de novembro de 2018

GLOBALIZAÇÃO, INTERNET E OS NOVOS ANALFABETOS FUNCIONAIS – Problematizações acerca da educação


I
Não é preciso ser um pedagogo, professor ou especialista em educação para, hoje, alvorecer do séc. XXI, ser capaz de reconhecer um novo tipo de analfabeto funcional[1] que tem surgido no mundo dito globalizado e, mais especificamente, como mera consequência de um subdesenvolvimento histórico, de maneira mais abrangente, também em países da América do sul, como o Brasil.
Nesse último caso, basta fazer parte de qualquer rede social da internet ou assistir vídeos no youtube que, rapidamente, descobre-se uma quantidade incomensurável deles. E isso devido a dois óbvios, mas nem por isso menos trágicos ou complexos motivos:
1- O primeiro porque, contrariando-se o princípio e/ou método filosófico (irônico e maiêutico) Socrático (sei apenas que nada sei), substanciados apenas pela doxa (opinião, aquilo que Platão, discípulo de Sócrates, chamava de realidade sensível, caverna ou mundo das sombras e das inverdades), eles, os novos analfabetos funcionais, acreditam-se também entendedores de tudo, de qualquer assunto: deste futebol, passando por dicas de saúde e beleza, e até mesmo sobre o como ficar rico em no máximo sete ou dez dias (ainda que tendo-se nascido um miserável);
2- O segundo, porque acreditam também que ninguém mais precisa aprender a pensar para viver, buscando-se, por exemplo, fazer pesquisas sérias e sistemáticas que levam anos; e nem tampouco estudar ou ler livros que não sejam de autoajuda ou ficção. Para eles, os analfabetos funcionais de hoje, contrariando a lógica de todas as epistemologias críticas do conhecimento, basta apenas se encher de pensamentos já pensados por outros, oriundos de fontes da própria internet, e depois reproduzi-los ou propagá-los, feito papagaios ou máquinas de ensinar, com um novo rótulo ou título apelativo, por meio de frases ditas virais e/ou de um “produto” digital qualquer.
II
Dentro desse contexto, obviamente, surge também um fato novo em relação aos antigos que caracteriza os novos analfabetos funcionais: se no século XX eles eram entendidos e definidos por especialistas como aqueles que não sabiam bem escrever; e que também não entendiam o que liam ou, entendendo o que liam, não conseguiam se expressar graficamente e fazerem relações com a realidade, os de hoje, por outro lado, “são aqueles que, ao parcamente lerem, ou ao precariamente decodificarem o que leem, além de não saberem se expressar oral e/ou graficamente, por falta de uma sólida formação cultural, não conseguem também, de forma crítica ou criativa, fazer relações do que leem ou das informações que recebem com a realidade local e, ao mesmo tempo, também global, isto é:
1-   Com a árvore e a floresta;
2-   Com as realidades micro e macrossociais existentes (esboçando-se, por exemplo, uma visão crítica e/ou um juízo de valor).
Nesse sentido, pode-se e deve-se também dizer que, hoje, alvorecer do séc. XXI, um dito indivíduo considerado analfabeto funcional é não mais somente aquele que possuía ou possui dificuldades de leitura e escrita, ou até mesmo aquele dito ser com pouco estudo, que não possuía dito nível de escolaridade ou diplomas, mas sim todo aquele que, diplomado ou não, não consegue ler o mundo e, que, portanto, faz-se também incapaz de transformar-se e/ou de lutar para poder transformá-lo em um lugar mais humano, justo, equitativo, participativo, fraterno, solidário, respeitoso das diferenças e ético de se viver.
III
Numa outra via, um ser considerado analfabeto funcional nos dias de hoje, tempo de globalização; tempo de altas tecnologias da informação; tempo de redes sociais e de amplos espaços virtuais de interação social e/ou ditas possibilidades incomensuráveis de ensino-aprendizagem:
1-   É também todo aquele, dotado do automatismo para buscar sempre se encher de informação, confundindo-a com sabedoria, que não se fez ou não se faz também capaz de fazer-se autônomo intelectualmente, isto é, de fazer-se capaz de aprender a pensar de forma crítica;
2-   É também todo aquele que sobrevive em estado de conformidade ou passividade intelectual, por fazer-se cheio de novas informações, alienadamente acreditando-se, por esse motivo, estar também hiper-consciente ou sábio.

II - A VERDADEIRA EDUCAÇÃO

A verdadeira educação, ao contrário do que muitos hoje acreditam, não é um processo heterônomo, ou seja, não é aquilo que, vindo de fora, como força externa, sob a forma de saberes enlatados (frases soltas de redes sociais, vídeos da internet, clichês, etc.), formata, compacta ou programa o ser para ter essa ou aquela visão de mundo; formata, compacta ou programa o ser para emitir essa ou aquela opinião; formata, compacta ou programa o ser para agir dessa ou daquela maneira, formando-se, por esta via, uma massa de seres programáveis ou programados, isto é, que apenas reproduzem “saberes” por outros já pensados.
A verdadeira Educação não é também, nesse sentido, um mero processo de formação cultural, dito de socialização. Ou seja, não é um processo de enchimento do ser com preceitos ditos éticos e/ou morais, etc. que, como se fossem camisas de força ideológicas coletivas, formatam os indivíduos ou grupos de indivíduos para pensarem ou agirem desse ou daquele jeito.

II.1 - A educação para além dos preceitos de Immanuel Kant
I
A educação, nos dias de hoje, século XXI, está e deve estar muito além dos ditos “quatro passos educacionais” outrora definidos por Immanuel Kant, em especial na sua obra intitulada “Sobre Pedagogia[2], publicada postumamente.
Para aqueles (a) que não conhecem o pensamento educacional kantiano, aqui vai uma rápida síntese.
1-   Disciplina: Segundo Kant, é onde a animalidade do homem é reprimida para que o seu caráter possa vir a ser desenvolvido;
2-   Cultura: é o que, segundo Kant, torna o ser humano um ser dito culto, depois de disciplinado, para que ele possa ter possibilidades múltiplas e para muitos fins;
3-   Civilidade: Para Kant, é aquilo que seria uma espécie de cultura dita mais refinada, isto é, que preza os ditos bons costumes, as convenções, as cerimônias sociais, etc. (Ex: gentileza, prudência, ser um dito bom cidadão, etc.);
4-   Moralização: É, segundo Kant, a última etapa do processo dito formativo; é aquilo que, para ele, seria a dita etapa mais importante da educação, porque o agir humano deve estar fundado em imperativos categóricos, ou seja, o ser deve pensar por si, mas sendo capaz de escolher os ditos bons fins para todos os seus atos, evitando-se, assim, agir buscando fins pessoais ou que atentem contra a dignidade humana.
Em síntese, para Kant, a educação é aquilo que estabelece um padrão ético ou moral-cultural (dito universal), estruturado sob a forma de imperativos categóricos (ações com fins em si mesmas). O indivíduo, segundo Kant, deve seguir valores universais. Ser um ser dito “autônomo”, dentro da perspectiva Kantiana, dentro desse contexto, seria o mesmo que internalizar imperativos categóricos e ser também capaz de agir, com bases neles, diferentemente das crianças, sem ninguém precisar mandar.

II.2 – A educação, muito além dos preceitos de Kant, como um processo dialógico-dialético de luta pela conquista da autonomia ou da emancipação intelectual

A educação, nos dias de hoje, diferentemente do que pensou Kant e muitos outros formalistas que o seguiram, é e deve ser entendida como aquilo que acontece quando o ser – sob processos dialógicos e/ou dialéticos, ocorridos estes em espaços-tempos existenciais concretos de ensino-aprendizagem, exercendo a sua liberdade para pensar, tem a possibilidade, fazendo uso do pensamento crítico, de desenvolver a sua autonomia intelectual, de construir a sua própria visão de mundo, e, portanto, também de fazer-se capaz de refletir sobre o sentido das suas próprias condutas ética e/ou morais.
Pode-se com propriedade afirmar, nesse sentido, que um verdadeiro processo educacional, muito além de um mero processo de formação Kantiano (cultural/ética/moral), é aquilo que pode levar uma vida, e não necessariamente o tempo de uma sistemática formação ou socialização escolar ou universitária, porque visa fazer com que o sujeito possa ser capaz de pensar ou refletir para agir, acompanhando sempre as dinâmicas sociais, e não de se tornar um dito ser “formado ou formatado”.
Ou seja, a educação, hoje, sec. XXI, deve ser entendida como um caminho dialógico e dialético, vivido e problematizado, de transição da heteronomia (espaço-tempo em que não se pensa de forma autônoma; e que apenas se obedece às regras de forma irreflexiva ou se segue o pensamento de um grupo, etc.) para a, diferentemente daquela postulada por Kant, verdadeira “autonomia”: espaço-tempo em que o ser, fazendo uso da própria capacidade para pensar ou refletir, em processo individual ou coletivo-dialógico, passa a desenvolver o gosto pelo aprender a pensar ou por agir e/ou tomar decisões refletidas, levando-se em consideração não apenas o aspecto formal ou formalista da ação (imperativos categóricos), mas também e impreterivelmente o concreto ou existencial. 


[1] O conceito de analfabetismo funcional foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e posteriormente passou a ser utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, por exemplo, não conseguem interpretar o que leem e nem tampouco compor e/ou redigir corretamente qualquer tipo de texto. Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço da população adulta brasileira é considerada analfabeta funcional. Fonte: MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete analfabetismo funcional. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
[2] Kant, Immanuel (1724 -1804). Sobre a pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. 2ª Ed. Piracicaba: Editora Unimep, 1999.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SABER É PODER - O BÁSICO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM ALIENADO



INTRODUÇÃO


Não resta-nos dúvidas de que Saber é Poder”, frase esta proferida por Francis Bacon (1561-1626), um dos fundadores do chamado método indutivo de investigação científica.  No mundo em que se vive, todavia, marcado este pela exclusão social, pela ideologia, pelo individualismo, pelo consumismo, pela meritocracia, pela xenofobia, etc., segundo tem-nos demonstrado os resultados de diversos estudos e pesquisas por nós realizados nos últimos anos, pode-se com propriedade afirmar, existem hoje cinco formas distintas de alienação e/ou de ausências de saber-poder, ou seja, de ditos ídolos, tais quais aqueles descritos por Bacon, F., e que se devem buscar superar, a saber:
1 – A alienação em relação a supostas e ditas capacidades ou incapacidades inatas, relativas à aprendizagem, à inteligência e/ou ao desenvolvimento da racionalidade, dadas entre os homens de diferentes classes ou grupos socioculturais. Ou seja, a alienação em relação às ideias de que se é de fato verdadeiro que alguns homens nascem inteligentes e/ou racionais e outros não (muitas vezes utilizadas estas pelas elites conservadoras para poderem justificar as desigualdades sociais, não somente no Brasil, mas em escala planetária).
2- A alienação sobre as reais causas das condições de exclusão social dos indivíduos pertencentes à sociedade civil, ou seja, a ausência do entendimento de que se vive, enquanto proletário e/ou cidadão-consumidor, além de na condição de escravo assalariado do capital, também refém dos juros e das regras de consumo do mercado capitalista;
3- A alienação sobre a condição de analfabeto político, isto é, a ausência da compreensão de que não existem mais diferenças essenciais entre ditos políticos/partidos ditos de direita e de esquerda; a ausência da compreensão de que a democracia representativa não é democracia de fato, isto é, de que ela não funciona na prática, etc.
4 – A alienação sobre a necessidade e/ou a importância de se desenvolver a tolerância, o respeito às diferenças e/ou aos diferentes, sejam elas e/ou eles de que naturezas forem, uma vez que o homem, como certa vez afirmou Aristóteles, é também um ser social e um animal político;
5 – A Alienação sobre a necessidade e/ou importância de se buscar desenvolver a consciência crítica de si e de mundo, estando-se dentro ou fora das instituições ditas educativas.
II
Em outras palavras, um ser, hoje, alvorecer do séc. XXI, considerado possuído por ídolos (no sentido de possessão espiritual, já que em filosofia espírito significa ideia), alienado e/ou destituído de saber-poder, entre outras coisas, é aquele que:
A – Desconhece suas potencialidades humanas. Ou seja, desconhece tudo o que, ele, exatamente por ser Homo Sapiens (diferente dos ditos animais irracionais), e independentemente das suas diferenças socioculturais, pode vir a ser.
B – É e/ou está excluído (socialmente falando), mas não sabe as razões e/ou os porquês da sua condição de exclusão social/pobreza e nem tampouco como sair dela (muitos inclusive ainda hoje acreditam que as suas exclusões sociais são frutos de uma espécie de sina, do pecado, da falta de sorte, da suposta falta de inteligência, etc.).
C – É analfabeto político, mas não sabe que o é. E, o pior de tudo: acredita que as decisões políticas, na maioria das vezes, não têm nenhuma ou quase nenhuma relação intrínseca e/ou direta com as causas da sua condição social de exclusão, etc.
 D – É xenófobo, etnocêntrico e/ou desrespeitoso das diferenças por pura convicção; por pura ideologia de grupo ou de classe; por achar que algumas etnias e/ou culturas, como a sua, são melhores do que as de outras. Por outro lado, quando se vê em situações de discriminação por causa da sua condição social, cultural e/ou de cor, paradoxalmente, defende discursos igualitários;
F – É um indivíduo que, na condição de compartilhador das ditas verdades e/ou saberes que circulam no senso comum, não possui desenvolvidas as consciências críticas de si e de mundo (exatamente por alienadamente acreditar que estas se deem por meio da leitura de jornais, revistas, noticiários de TV, rádio e internet e/ou porque já se deram ou também se dão a partir de um mero acesso e/ou alcance do dito sucesso nas instituições ditas educativas, ao receberem os seus ditos diplomas, depois de por elas serem ditos formados/formatados).
III
Na unidade I, sendo assim, epistemologicamente fundamentado em Nietzsche, Heidegger, Aristóteles e outros, traremos saberes que, ao mesmo tempo em que clarificam-nos sobre as diferenças essenciais existentes entre homens e animais, delineiam também um caminho relativo a tudo o que o homem de fato pode ou não pode vir a ser a partir da constatação do que ele é, independentemente de suas diferenças socioculturais, ainda que condicionado por elas.
Na II, traremos saberes para que o indivíduo, a partir deles, possa não somente compreender, mas também se libertar da sua condição de exclusão social ou pobreza; na III, para que ele possa se tornar mais atento e/ou participativo das questões políticas, uma vez que estas possuem uma ligação direta com as suas condições de vida; na IV, para que ele possa (ao conscientizar-se; ao entender a importância do respeito às diferenças), abdicar de ser um Ser xenófobo, etnocêntrico, genocida ou biocida potencial; na V, finalizando, para que ele possa buscar ser capaz de desenvolver a sua consciência crítica de si e de mundo rumo ao resgate da sua condição de sujeito pensante, ou seja, de emancipado intelectual.
Esperamos que, esse livro, assim como todas as obras do autor, possa contribuir à formação de uma geração mais crítica, mais humana, politicamente participativa, socialmente equitativa, tolerante, respeitosa das diferenças e, na mesma via, mais autônoma e transformadora da realidade social de si e do mundo em que se vive.
O autor


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA & EDUCAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE O PENSAMENTO DE NIETZSCHE E A CULTURA - TESE DE DOUTORADO


 “Cada povo fala uma língua do bem e do mal que o seu vizinho não entende. Inventou sua própria língua para os seus costumes e as suas leis”.
(Nietzsche, F. p. 51)

PREFÁCIO

SOBRE A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA[1]& A EDUCAÇÃO

 I
O que é Antropologia Filosófica?  Em síntese, é a antropologia encarada de forma metafísica (ontológica), ou seja, uma parte da filosofia que estuda e/ou investiga a estrutura essencial do Homem.
O homem, sendo assim, ocupa o centro da especulação filosófica: tudo se deduz a partir dele; é a partir dele que se tornam acessíveis os estudos das realidades que o transcendem e/ou que delas ele faz parte (Vale ressaltar, todavia, que a antropologia filosófica é uma antropologia de essências e não das características humanas: ela se distingue, por exemplo, das antropologias míticas, poéticas, teológica e científico natural ou evolucionista por buscar uma interpretação ou compreensão ontológica do ser homem).
Segundo o pensamento de Bernard Grothysen, dentro desse contexto, a Antropologia Filosófica:
 “É a reflexão sobre nós próprios, isto é, a reflexão sempre renovada que o homem faz para chegar a compreender-se.”
Em outras palavras, é uma filosofia (investigação ontológica), por assim dizer, que está concentrada no estudo das estruturas fundamentais do homem, buscando o significado do Ser. Ou seja:

1- O homem torna-se para si mesmo o tema de toda a especulação filosófica;

2- Interessa-se em estudar o homem e tudo o mais apenas em relação a ele.

3- O que é mais significativo é o conhecimento do homem, e não o de nós próprios enquanto individualidade.

4- Estuda também o caráter biopsicológico do homem, isto é, verifica o que o homem faz com suas disposições bioquímicas que possa diferenciá-lo de outros animais.

5- Tece-se, por meio dela (da Antropologia filosófica), reflexões sobre a vida, a religião, etc.

6- A introspecção se revela como sendo absolutamente necessária, isto é, não somente como fundamento, mas também como ponto de partida de qualquer outro recurso de natureza metodológica.

A filosofia Antropológica, entretanto, como talvez erroneamente possam pensar alguns, e vale também ressaltar, não nasce do nada: ela faz uso dos dados proporcionados pelas outras formas de antropologia como, por exemplo, os fornecidos pela “antropologia das características humanas” (biologia, sociologia, psicologia, etnografia, arqueologia e história), mas ao mesmo tempo interpreta esses dados à sua maneira, procurando unificá-los numa teoria abrangente.

II – AS CONTRIBUIÇÕES DE KANT

Immanuel Kant certa vez definiu a antropologia como “A questão filosófica por excelência”, uma vez que, a filosofia, enquanto tal, tomaria ao seu encargo quatro grandes problemáticas: a metafísica, a  ética, a  religião e a antropologia, considerando que todas as três primeiras não seriam senão partes da última, pois todas elas remetem, em análise, ao problema do humano. Isto é, por meio da Antropologia filosófica, frise-se:
1- Coloca-se o problema do homem no próprio homem;
2- Questiona-se o lugar ocupado pela função racional do homem em comparação com outras funções.
Kant, nesse sentido, propôs quatro problemas fundamentais:
1- “O que podemos conhecer?”;
2- “O que devemos fazer?”;
3- “A que podemos aspirar?”; e:
4- “O que é o homem?”.
Sendo, este último, de natureza não somente filosófica, mas também antropológica.
  
III – A FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA DA EDUCAÇÃO
I
A filosofia antropológica da educação, sendo assim, pode-se dizer, está corporificada exatamente aí:
“Somente ao desvendar-se o que é, o que está e/ou o que tem sido o homem (Natureza humana e Condição humana), é que se pode também, a partir daí, especular-se sobre o que ele, esse mesmo homem, sob perspectivas pedagógicas:
1-   Deve ou não vir a conhecer;
2-   Deve ou não ser e/ou vir a ser;
3-   Deve ou não fazer e/ou vir a fazer...” (grifo meu)
II
Para nós, os homens, principalmente nas sociedades ocidentais capitalistas pós-modernas, onde há um paradoxo em relação à ideia de aldeia global, como se verá de forma mais consistente e epistemologicamente fundamentada ao longo deste trabalho, tornaram-se e/ou têm se tornado não somente reféns, mas também escravos das suas diferentes culturas. Ou seja:
“Tornaram-se e/ou têm se tornado xenófobos por alienada convicção, etnocêntricos, incapazes de tolerarem ou respeitarem às diferenças e, nesse sentido, também genocidas e/ou biocidas potenciais.”
III
O livro (tese) procura mostrar como é que a aquisição de cultura (confundida ou concebida como sinônimo de educação), em suas diferentes facetas, nos seus diferentes povos, tem feito com que os diferentes homens, ao incorporarem-nas, incorporem também diferentes símbolos representativos da realidade, diferentes valores, ou seja, canalizem corrosivamente os seus sentidos para somente poderem enxergar, como sendo bom e/ou dito virtuoso, aquilo que a sua própria cultura julga como tal (eurocentrismo, etnocentrismo, etc.).
Na primeira unidade questionar-se-ão os aspectos xenófobos e etnocêntricos presentes nas diferentes culturas, procurando levantar os paradoxos e as diferenças entre cultura e educação dentro do contexto dos processos de socialização, sejam estas institucionalizadas ou não. Isto é, a partir de uma discussão sobre os processos de formação cultural (sistematizados por meio das instituições “ditas educativas”, presentes estas nas sociedades capitalistas pós-modernas), procurar-se-á questionar o caráter paradoxal das culturas (formativo e ao mesmo tempo deformador).
Na segunda apresentaremos alternativas e/ou caminhos para a volta do homo sapiens em oposição férrea à sua condição humana desumana. Ou seja, apontar-se-ão novos caminhos para a educação sistematizada no século XXI; para aquela educação dada por meio das instituições ditas educativas e que tem sido histórica e tragicamente concebida como um mero processo de endoculturação ou socialização.
Espera-se que, essa obra, assim como tantas outras do autor, possa de alguma forma contribuir à formação de uma geração mais transformadora, a partir da transformação deliberada da consciência dos seres sociais, colocando-os na condição humana de verdadeiros atores sociais transformadores porque, antes, durante e depois, deliberadamente também questionadores dos valores do mundo desumano e desumanizador em que se vive.
O autor

SOBRE O AUTOR

Cleberson Eduardo da Costa (mais de 100 livros publicados, muitos deles traduzidos para outros idiomas), natural do Rio de Janeiro, é graduado pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/1995-1998), Pós-graduado em educação (UCAM – Universidade Candido Mendes), Pós-graduando em Filosofia e Direitos Humanos (UCAM – Universidade Candido Mendes), Mestre e Doutor (livre) em Filosofia do conhecimento (epistemologia) e Pedagofilosofia Clínica (FUNCEC - pesquisa, ensino e extensão), Pesquisador, Professor universitário, Especialista em metodologia do ensino superior, Licenciado em Fundamentos, Sociologia, Psicologia e Filosofia da educação, Didática, EJA (educação de Jovens e adultos) etc.
Além disso, foi aluno Especial do Mestrado em Educação(1999-2001/PROPED/UERJ), matriculado, após aprovação em concurso, nas disciplinas [seminários de pesquisa] “ESTATUTO FILOSÓFICO” (ministrado e coordenado pela professora Drª Lilian do Valle); e “POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA” (ministrado e coordenado pelo professor Dr. Pablo Gentili).
Estudou também no curso de MBA em Gestão Empresarial pela FUNCEFET/RJ/Região dos Lagos (2003-2005); no curso de Pós-Graduação em Administração e Planejamento da Educação pela UERJ (1999-2000); e realizou vários cursos livres e/ou de aperfeiçoamento nas áreas da filosofia e da psicanálise por instituições diversas, entre elas a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a SBPI (sociedade brasileira de psicanálise integrada).
De 1998 a 2008, atuou como professor de ensino superior (Instituto Superior de Educação da UCAM/universidade Cândido Mendes) nos campus universitários de Niterói, Nova Friburgo, Araruama, Rio de Janeiro, Teresópolis, Rio das Ostras, etc.
Participou (em sua trajetória profissional e/ou intelectual acadêmica) de diversas pesquisas, como, por exemplo, o projeto UERJ-DEGASE, relativo à (EJA) e também em pesquisas centradas em problemáticas políticas, filosóficas e pedagógicas com professores renomados, como Pablo Gentili (UERJ/CLACSO), Cleonice Puggian (UNIGRANRIO), Carla Imenes (UEPG), Cristiane Silva Albuquerque (UERJ), Marco Antonio Marinho dos Santos (OCA/RJ) entre muitos outros.
Atualmente dedica-se à docência universitária; a pesquisas em educação; a consultorias relativas à educação, no sentido do aprimoramento, da superação e do desenvolvimento humano; à realização de palestras acadêmicas e multiorganizacionais e à produção de obras nos mais diversos campos do saber.



[1] 1- A Posição do Homem no Cosmos – Max Scheler. 2- Filosofia da cultura – Ernst Cassirer. Antropologia Filosófica (Essay on Man) - Ernst Cassirer.3- Evolução do pensamento: Schelling - filosofia da vida – Nietzsche, Helmut Plessner, Arnold Gehlen Fenomenologia Scheller (formula de modo explícito o tema antropológico como tal Filosofia da Existência).

INTELIGÊNCIA TRANSCENDENTAL

 (A5, 136p.) O ser humano, atingindo ou não a sua chamada idade da razão, no encontro da vida social com outros seres sociais, e/ou simplesm...