“Cada povo fala uma língua do bem e do
mal que o seu vizinho não entende. Inventou sua própria língua para os seus
costumes e as suas leis”.
(Nietzsche, F. p. 51)
PREFÁCIO
SOBRE A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA[1]& A EDUCAÇÃO
O que é Antropologia Filosófica? Em síntese, é a antropologia encarada de forma
metafísica (ontológica), ou seja, uma parte da filosofia que estuda e/ou investiga a estrutura essencial do Homem.
O homem,
sendo assim, ocupa o centro da especulação filosófica: tudo se deduz a partir
dele; é a partir dele que se tornam acessíveis os estudos das realidades que o
transcendem e/ou que delas ele faz parte (Vale ressaltar, todavia, que a
antropologia filosófica é uma antropologia de essências e não das
características humanas: ela se distingue, por exemplo, das antropologias
míticas, poéticas, teológica e científico natural
ou evolucionista por buscar uma interpretação ou
compreensão ontológica do ser homem).
Segundo o
pensamento de Bernard Grothysen, dentro desse contexto, a Antropologia Filosófica:
“É
a reflexão sobre nós próprios, isto é, a reflexão sempre renovada que o homem
faz para chegar a compreender-se.”
Em
outras palavras, é uma filosofia (investigação ontológica), por assim dizer,
que está concentrada no estudo das
estruturas fundamentais do homem, buscando o significado do Ser. Ou seja:
1- O homem torna-se para si mesmo o tema de toda a especulação filosófica;
2- Interessa-se em estudar o homem e tudo o mais apenas em relação a ele.
3- O que é mais significativo é o conhecimento do homem, e não o de nós próprios enquanto individualidade.
4- Estuda também o caráter biopsicológico do homem, isto é, verifica o que o homem faz com suas disposições bioquímicas que possa diferenciá-lo de outros animais.
5- Tece-se, por meio dela (da Antropologia filosófica), reflexões sobre a vida, a religião, etc.
6- A introspecção se revela como sendo absolutamente necessária, isto é, não somente como fundamento, mas também como ponto de partida de qualquer outro recurso de natureza metodológica.
A filosofia Antropológica, entretanto, como talvez erroneamente possam pensar alguns, e vale também ressaltar, não nasce do nada: ela faz uso dos dados proporcionados pelas outras formas de antropologia como, por exemplo, os fornecidos pela “antropologia das características humanas” (biologia, sociologia, psicologia, etnografia, arqueologia e história), mas ao mesmo tempo interpreta esses dados à sua maneira, procurando unificá-los numa teoria abrangente.
II – AS CONTRIBUIÇÕES DE KANT
Immanuel
Kant certa vez definiu a
antropologia como “A questão filosófica por excelência”, uma vez que, a
filosofia, enquanto tal, tomaria ao seu encargo quatro grandes problemáticas: a
metafísica, a ética, a religião e a antropologia,
considerando que todas as três primeiras não seriam senão partes da última, pois
todas elas remetem, em análise, ao problema do humano. Isto é, por meio da
Antropologia filosófica, frise-se:
1- Coloca-se
o problema do homem no próprio homem;
2- Questiona-se
o lugar ocupado pela função racional do homem em comparação com outras funções.
Kant,
nesse sentido, propôs quatro problemas fundamentais:
1- “O que
podemos conhecer?”;
2- “O que
devemos fazer?”;
3- “A que
podemos aspirar?”; e:
4- “O que
é o homem?”.
Sendo,
este último, de natureza não somente filosófica, mas também antropológica.
III – A FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA DA EDUCAÇÃO
I
A
filosofia antropológica da educação, sendo assim, pode-se dizer, está
corporificada exatamente aí:
“Somente ao desvendar-se o que é, o que está e/ou o
que tem sido o homem (Natureza humana e Condição humana), é que se pode também,
a partir daí, especular-se sobre o que ele, esse mesmo homem, sob perspectivas
pedagógicas:
1- Deve ou não vir a conhecer;
2- Deve ou não ser e/ou vir a ser;
3- Deve ou não fazer e/ou vir a fazer...” (grifo meu)
II
Para nós, os homens, principalmente nas sociedades
ocidentais capitalistas pós-modernas, onde há um paradoxo em relação à ideia de
aldeia global, como se verá de forma mais consistente e epistemologicamente
fundamentada ao longo deste trabalho,
tornaram-se
e/ou têm se tornado não somente reféns, mas também escravos das suas diferentes
culturas. Ou seja:
“Tornaram-se e/ou têm se
tornado xenófobos por alienada convicção, etnocêntricos, incapazes de tolerarem
ou respeitarem às diferenças e, nesse sentido, também genocidas e/ou biocidas
potenciais.”
III
O
livro (tese) procura mostrar como é que a aquisição de cultura (confundida ou
concebida como sinônimo de educação), em suas diferentes facetas, nos seus
diferentes povos, tem feito com que os diferentes homens, ao incorporarem-nas,
incorporem também diferentes símbolos representativos da realidade, diferentes
valores, ou seja, canalizem corrosivamente os seus sentidos para somente poderem
enxergar, como sendo bom e/ou dito virtuoso, aquilo que a sua própria cultura
julga como tal (eurocentrismo, etnocentrismo, etc.).
Na
primeira unidade questionar-se-ão os aspectos xenófobos e etnocêntricos
presentes nas diferentes culturas, procurando levantar os paradoxos e as
diferenças entre cultura e educação dentro do contexto dos processos de
socialização, sejam estas institucionalizadas ou não. Isto é, a partir de uma
discussão sobre os processos de formação cultural (sistematizados por meio das
instituições “ditas educativas”, presentes estas nas sociedades capitalistas
pós-modernas), procurar-se-á questionar o caráter paradoxal das culturas
(formativo e ao mesmo tempo deformador).
Na
segunda apresentaremos alternativas e/ou caminhos para a volta do homo sapiens
em oposição férrea à sua condição humana desumana. Ou seja, apontar-se-ão novos
caminhos para a educação sistematizada no século XXI; para aquela educação dada
por meio das instituições ditas educativas e que tem sido histórica e
tragicamente concebida como um mero processo de endoculturação ou socialização.
Espera-se
que, essa obra, assim como tantas outras do autor, possa de alguma forma contribuir
à formação de uma geração mais transformadora, a partir da transformação
deliberada da consciência dos seres sociais, colocando-os na condição humana de
verdadeiros atores sociais transformadores porque, antes, durante e depois,
deliberadamente também questionadores dos valores do mundo desumano e
desumanizador em que se vive.
O autor
SOBRE O AUTOR
Cleberson Eduardo da Costa (mais de 100 livros publicados, muitos
deles traduzidos para outros idiomas), natural do Rio de Janeiro, é graduado
pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/1995-1998), Pós-graduado em
educação (UCAM – Universidade Candido Mendes), Pós-graduando em Filosofia e
Direitos Humanos (UCAM – Universidade Candido Mendes), Mestre e Doutor (livre)
em Filosofia do conhecimento (epistemologia) e Pedagofilosofia Clínica (FUNCEC
- pesquisa, ensino e extensão), Pesquisador, Professor universitário,
Especialista em metodologia do ensino superior, Licenciado em Fundamentos,
Sociologia, Psicologia e Filosofia da educação, Didática, EJA (educação de
Jovens e adultos) etc.
Além disso,
foi aluno Especial do Mestrado em Educação(1999-2001/PROPED/UERJ), matriculado,
após aprovação em concurso, nas disciplinas [seminários de pesquisa] “ESTATUTO
FILOSÓFICO” (ministrado e coordenado pela professora Drª Lilian do Valle); e
“POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA” (ministrado e coordenado
pelo professor Dr. Pablo Gentili).
Estudou
também no curso de MBA em Gestão Empresarial pela FUNCEFET/RJ/Região dos Lagos
(2003-2005); no curso de Pós-Graduação em Administração e Planejamento da
Educação pela UERJ (1999-2000); e realizou vários cursos livres e/ou de
aperfeiçoamento nas áreas da filosofia e da psicanálise por instituições
diversas, entre elas a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a SBPI (sociedade
brasileira de psicanálise integrada).
De 1998 a
2008, atuou como professor de ensino superior (Instituto Superior de Educação
da UCAM/universidade Cândido Mendes) nos campus universitários de Niterói, Nova
Friburgo, Araruama, Rio de Janeiro, Teresópolis, Rio das Ostras, etc.
Participou
(em sua trajetória profissional e/ou intelectual acadêmica) de diversas
pesquisas, como, por exemplo, o projeto UERJ-DEGASE, relativo à (EJA) e também
em pesquisas centradas em problemáticas políticas, filosóficas e pedagógicas
com professores renomados, como Pablo Gentili (UERJ/CLACSO), Cleonice Puggian
(UNIGRANRIO), Carla Imenes (UEPG), Cristiane Silva Albuquerque (UERJ), Marco
Antonio Marinho dos Santos (OCA/RJ) entre muitos outros.
Atualmente
dedica-se à docência universitária; a pesquisas em educação; a consultorias
relativas à educação, no sentido do aprimoramento, da superação e do desenvolvimento
humano; à realização de palestras acadêmicas e multiorganizacionais e à
produção de obras nos mais diversos campos do saber.
[1] 1- A Posição do Homem no Cosmos – Max Scheler. 2- Filosofia da cultura –
Ernst Cassirer. Antropologia Filosófica (Essay on Man) - Ernst Cassirer.3-
Evolução do pensamento: Schelling - filosofia da vida – Nietzsche, Helmut
Plessner, Arnold Gehlen Fenomenologia Scheller (formula de modo explícito o
tema antropológico como tal Filosofia da Existência).
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