segunda-feira, 5 de novembro de 2018

FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA & EDUCAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE O PENSAMENTO DE NIETZSCHE E A CULTURA - TESE DE DOUTORADO


 “Cada povo fala uma língua do bem e do mal que o seu vizinho não entende. Inventou sua própria língua para os seus costumes e as suas leis”.
(Nietzsche, F. p. 51)

PREFÁCIO

SOBRE A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA[1]& A EDUCAÇÃO

 I
O que é Antropologia Filosófica?  Em síntese, é a antropologia encarada de forma metafísica (ontológica), ou seja, uma parte da filosofia que estuda e/ou investiga a estrutura essencial do Homem.
O homem, sendo assim, ocupa o centro da especulação filosófica: tudo se deduz a partir dele; é a partir dele que se tornam acessíveis os estudos das realidades que o transcendem e/ou que delas ele faz parte (Vale ressaltar, todavia, que a antropologia filosófica é uma antropologia de essências e não das características humanas: ela se distingue, por exemplo, das antropologias míticas, poéticas, teológica e científico natural ou evolucionista por buscar uma interpretação ou compreensão ontológica do ser homem).
Segundo o pensamento de Bernard Grothysen, dentro desse contexto, a Antropologia Filosófica:
 “É a reflexão sobre nós próprios, isto é, a reflexão sempre renovada que o homem faz para chegar a compreender-se.”
Em outras palavras, é uma filosofia (investigação ontológica), por assim dizer, que está concentrada no estudo das estruturas fundamentais do homem, buscando o significado do Ser. Ou seja:

1- O homem torna-se para si mesmo o tema de toda a especulação filosófica;

2- Interessa-se em estudar o homem e tudo o mais apenas em relação a ele.

3- O que é mais significativo é o conhecimento do homem, e não o de nós próprios enquanto individualidade.

4- Estuda também o caráter biopsicológico do homem, isto é, verifica o que o homem faz com suas disposições bioquímicas que possa diferenciá-lo de outros animais.

5- Tece-se, por meio dela (da Antropologia filosófica), reflexões sobre a vida, a religião, etc.

6- A introspecção se revela como sendo absolutamente necessária, isto é, não somente como fundamento, mas também como ponto de partida de qualquer outro recurso de natureza metodológica.

A filosofia Antropológica, entretanto, como talvez erroneamente possam pensar alguns, e vale também ressaltar, não nasce do nada: ela faz uso dos dados proporcionados pelas outras formas de antropologia como, por exemplo, os fornecidos pela “antropologia das características humanas” (biologia, sociologia, psicologia, etnografia, arqueologia e história), mas ao mesmo tempo interpreta esses dados à sua maneira, procurando unificá-los numa teoria abrangente.

II – AS CONTRIBUIÇÕES DE KANT

Immanuel Kant certa vez definiu a antropologia como “A questão filosófica por excelência”, uma vez que, a filosofia, enquanto tal, tomaria ao seu encargo quatro grandes problemáticas: a metafísica, a  ética, a  religião e a antropologia, considerando que todas as três primeiras não seriam senão partes da última, pois todas elas remetem, em análise, ao problema do humano. Isto é, por meio da Antropologia filosófica, frise-se:
1- Coloca-se o problema do homem no próprio homem;
2- Questiona-se o lugar ocupado pela função racional do homem em comparação com outras funções.
Kant, nesse sentido, propôs quatro problemas fundamentais:
1- “O que podemos conhecer?”;
2- “O que devemos fazer?”;
3- “A que podemos aspirar?”; e:
4- “O que é o homem?”.
Sendo, este último, de natureza não somente filosófica, mas também antropológica.
  
III – A FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA DA EDUCAÇÃO
I
A filosofia antropológica da educação, sendo assim, pode-se dizer, está corporificada exatamente aí:
“Somente ao desvendar-se o que é, o que está e/ou o que tem sido o homem (Natureza humana e Condição humana), é que se pode também, a partir daí, especular-se sobre o que ele, esse mesmo homem, sob perspectivas pedagógicas:
1-   Deve ou não vir a conhecer;
2-   Deve ou não ser e/ou vir a ser;
3-   Deve ou não fazer e/ou vir a fazer...” (grifo meu)
II
Para nós, os homens, principalmente nas sociedades ocidentais capitalistas pós-modernas, onde há um paradoxo em relação à ideia de aldeia global, como se verá de forma mais consistente e epistemologicamente fundamentada ao longo deste trabalho, tornaram-se e/ou têm se tornado não somente reféns, mas também escravos das suas diferentes culturas. Ou seja:
“Tornaram-se e/ou têm se tornado xenófobos por alienada convicção, etnocêntricos, incapazes de tolerarem ou respeitarem às diferenças e, nesse sentido, também genocidas e/ou biocidas potenciais.”
III
O livro (tese) procura mostrar como é que a aquisição de cultura (confundida ou concebida como sinônimo de educação), em suas diferentes facetas, nos seus diferentes povos, tem feito com que os diferentes homens, ao incorporarem-nas, incorporem também diferentes símbolos representativos da realidade, diferentes valores, ou seja, canalizem corrosivamente os seus sentidos para somente poderem enxergar, como sendo bom e/ou dito virtuoso, aquilo que a sua própria cultura julga como tal (eurocentrismo, etnocentrismo, etc.).
Na primeira unidade questionar-se-ão os aspectos xenófobos e etnocêntricos presentes nas diferentes culturas, procurando levantar os paradoxos e as diferenças entre cultura e educação dentro do contexto dos processos de socialização, sejam estas institucionalizadas ou não. Isto é, a partir de uma discussão sobre os processos de formação cultural (sistematizados por meio das instituições “ditas educativas”, presentes estas nas sociedades capitalistas pós-modernas), procurar-se-á questionar o caráter paradoxal das culturas (formativo e ao mesmo tempo deformador).
Na segunda apresentaremos alternativas e/ou caminhos para a volta do homo sapiens em oposição férrea à sua condição humana desumana. Ou seja, apontar-se-ão novos caminhos para a educação sistematizada no século XXI; para aquela educação dada por meio das instituições ditas educativas e que tem sido histórica e tragicamente concebida como um mero processo de endoculturação ou socialização.
Espera-se que, essa obra, assim como tantas outras do autor, possa de alguma forma contribuir à formação de uma geração mais transformadora, a partir da transformação deliberada da consciência dos seres sociais, colocando-os na condição humana de verdadeiros atores sociais transformadores porque, antes, durante e depois, deliberadamente também questionadores dos valores do mundo desumano e desumanizador em que se vive.
O autor

SOBRE O AUTOR

Cleberson Eduardo da Costa (mais de 100 livros publicados, muitos deles traduzidos para outros idiomas), natural do Rio de Janeiro, é graduado pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/1995-1998), Pós-graduado em educação (UCAM – Universidade Candido Mendes), Pós-graduando em Filosofia e Direitos Humanos (UCAM – Universidade Candido Mendes), Mestre e Doutor (livre) em Filosofia do conhecimento (epistemologia) e Pedagofilosofia Clínica (FUNCEC - pesquisa, ensino e extensão), Pesquisador, Professor universitário, Especialista em metodologia do ensino superior, Licenciado em Fundamentos, Sociologia, Psicologia e Filosofia da educação, Didática, EJA (educação de Jovens e adultos) etc.
Além disso, foi aluno Especial do Mestrado em Educação(1999-2001/PROPED/UERJ), matriculado, após aprovação em concurso, nas disciplinas [seminários de pesquisa] “ESTATUTO FILOSÓFICO” (ministrado e coordenado pela professora Drª Lilian do Valle); e “POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA” (ministrado e coordenado pelo professor Dr. Pablo Gentili).
Estudou também no curso de MBA em Gestão Empresarial pela FUNCEFET/RJ/Região dos Lagos (2003-2005); no curso de Pós-Graduação em Administração e Planejamento da Educação pela UERJ (1999-2000); e realizou vários cursos livres e/ou de aperfeiçoamento nas áreas da filosofia e da psicanálise por instituições diversas, entre elas a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a SBPI (sociedade brasileira de psicanálise integrada).
De 1998 a 2008, atuou como professor de ensino superior (Instituto Superior de Educação da UCAM/universidade Cândido Mendes) nos campus universitários de Niterói, Nova Friburgo, Araruama, Rio de Janeiro, Teresópolis, Rio das Ostras, etc.
Participou (em sua trajetória profissional e/ou intelectual acadêmica) de diversas pesquisas, como, por exemplo, o projeto UERJ-DEGASE, relativo à (EJA) e também em pesquisas centradas em problemáticas políticas, filosóficas e pedagógicas com professores renomados, como Pablo Gentili (UERJ/CLACSO), Cleonice Puggian (UNIGRANRIO), Carla Imenes (UEPG), Cristiane Silva Albuquerque (UERJ), Marco Antonio Marinho dos Santos (OCA/RJ) entre muitos outros.
Atualmente dedica-se à docência universitária; a pesquisas em educação; a consultorias relativas à educação, no sentido do aprimoramento, da superação e do desenvolvimento humano; à realização de palestras acadêmicas e multiorganizacionais e à produção de obras nos mais diversos campos do saber.



[1] 1- A Posição do Homem no Cosmos – Max Scheler. 2- Filosofia da cultura – Ernst Cassirer. Antropologia Filosófica (Essay on Man) - Ernst Cassirer.3- Evolução do pensamento: Schelling - filosofia da vida – Nietzsche, Helmut Plessner, Arnold Gehlen Fenomenologia Scheller (formula de modo explícito o tema antropológico como tal Filosofia da Existência).

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