PREFÁCIO
I
(A5, 199p.) - Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo
existencial-humanista francês, fazendo uma crítica radical aos valores da
sociedade ocidental do século XX, certa vez escreveu: “Tudo é aparência e engano”.
A máxima do filósofo, não somente para
os leigos, poderia, à época e ainda hoje, ser compreendida como um axioma substanciado
em um ceticismo-absoluto, radical, aos
moldes de Górgias e Pirro (dois filósofos céticos radicais do antigo ou
clássico período grego) se, como se sabe, não estivesse Sartre não somente
fazendo referência, mas também reavivando e/ou trazendo à tona as ideias e/ou
princípios fenomenológicos descritos por Immanuel Kant (1724-1804), em seu
livro “crítica da razão pura”, e, mais tarde, desenvolvidos também, de maneira
sistemática, pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938), com o seu chamado método
fenomenológico.
Em outras palavras, Sartre, filósofo
existencial-humanista, enquanto sujeito pensante reconhecedor e gerenciador do
caráter intencional (fenomenológico) da sua própria consciência, ao proferir a
referida frase (“tudo é aparência e engano”), não estava tendo aí uma posição
cético-absoluta, mas, muito pelo contrário, defendendo a tese, após suas análises
filosóficas sociopolíticas:
1- De
que a sociedade ocidental em que ele vivia (e que ainda hoje vivemos) tinha (e tem)
a inverdade e/ou a ideologia (inversão da realidade) como um valor. Ou seja:
2- De
que ela, a ideologia, assim como também defendeu Karl Marx, sistematicamente
mascara a realidade.
II
Pergunta-se:
“Com
base na premissa de Sartre (“tudo é aparência e engano”), caso encontrar ou
conhecer a verdade seja algo de fato possível, quais seriam então esses
possíveis métodos e/ou caminhos?
Pode-se dizer que, filosoficamente, questões
relacionadas à natureza e/ou às possibilidades de acesso ou não do homem ao conhecimento
são estudadas por uma disciplina chamada epistemologia[1],
gnosiologia, crítica ou teoria do
conhecimento e consiste numa reflexão/estudo/pesquisa que tem por objetivo
desvelar as suas origens, fundamentos, extensão e valor.
Vários filósofos, desde o período grego
clássico, embora tenha existido um maior aprofundamento e desenvolvimento de
estudos a partir da era moderna (Francis Bacon, René Descartes, Immanuel Kant,
Hegel, Marx, Edmund Husserl etc.), têm se preocupado com o problema do
conhecimento humano ou da verdade. Problema este que, em síntese, envolve
questões fundamentais tais como:
1-
É possível ao homem o conhecimento? Isto é:
A - Somos de fato capazes de conhecer a verdade?; B - Somos de fato capazes de
apreendermos, na inteireza, os nossos objetos de estudo?); E mais:
2 - Qual é o fundamento do
conhecimento? (Ou seja: C- O que é conhecimento?; D - O que é a verdade?; E -
Quais seriam os possíveis métodos e/ou caminhos de busca pelo conhecimento
etc.?).
III
Existem, pode-se dizer, duas posições epistemológicas
antagônicas dentro da história do pensamento filosófico ocidental que procuram
se posicionar diante das referidas questões ou problemáticas, a saber:
1-
O DOGMATISMO GNOSIOLÓGICO que, sob
duas diferentes formas, “defende ou
afirma a possibilidade humana de se conhecer ou chegar à verdade”. São
eles:
I
– O Dogmatismo-gnosiológico ingênuo
(que, fundamentado no senso comum, acredita que, sem qualquer problema, podemos
perceber o mundo tal como ele o é e/ou conhecer a verdade);
II
– O Dogmatismo-gnosiológico crítico
(que, diferentemente do dogmatismo gnosiológico-ingênuo, defende também que o
homem é capaz de conhecer a verdade, mas somente através do uso metódico da
razão e/ou da inteligência (Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho,
Descartes, Francis Bacon, Hegel, Marx etc.).
2-
O CETICISMO, que, ao contrário do
dogmatismo, “nega as possibilidades do
conhecimento humano e/ou de o homem poder vir a conhecer a verdade”, e se
divide também em dois diferentes tipos:
I
– O Ceticismo-absoluto (cujos
maiores defensores são os filósofos da era clássica Górgias e Pirro);
II
– O Ceticismo-relativo (que
tem seu fundamento nas ideias de David Hume, Immanuel Kant e maior expressão na
filosofia fenomenológica de Edmund Husserl).
IV
Existem,
dentro da história da filosofa ocidental, sendo assim, diferentes tipos de
epistemologias e/ou considerados métodos específicos à busca do saber:
1-
O
dialético-Socrático (Ironia e Maiêutica – Sócrates [469-399 a.C]);
2-
O
idealista (Platão [427-347 a.C]);
3-
O
Racionalista (Descartes [1596-1650]);
4-
O
Empirista (Aristóteles [384-322 a.C]; Francis Bacon [1561-1622]; John Locke
[1632-1704]; e David Hume [1711-1776]);
5-
O
Fenomenológico (Immanuel Kant [1724-1804]; e Edmund Husserl [1859-1938]);
6-
O
Hermenêutico (Martin Heidegger [1889-1976]);
7-
O
idealista dialético (Hegel [1770-1831]);
8-
O
materialista dialético (Karl Marx [1818-1883]);
9-
O
filológico, genealógico e/ou arqueológico (Nietzsche [1844-1900]; Foucalt
[1926-1984]) etc.
V
Ao longo deste trabalho, estudaremos os
axiomas dos mais importantes filósofos referentes a essas duas correntes
epistemológicas (Dogmatismo gnosiológico,
e Ceticismo gnosiológico); e, na mesma via, também as mais importantes teorias do conhecimento, com suas
diferentes concepções teórico-metodológicas, referentes às didáticas e/ou
práticas docentes que se estruturam a partir delas.
O autor
[1] Epistemologia,
Gnosiologia, Crítica ou Teoria do Conhecimento: 1-Estudo ou reflexão geral
em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano; 2- Estudo ou reflexão sobre os
postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber filosófico, ou
das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou
descritas em suas trajetórias evolutivas, assim como também seus paradigmas
estruturais ou suas relações com a sociedade e a história.