O FILÓSOFO IRÔNICO
Coleção FILÓSOFOS DO NOSSO TEMPO
I
Ironia, talvez desconheçam muitos, não é sinônimo
de sarcasmo. Por isso mesmo, nem de longe deve ela ser confundida com zombaria.
Sarcasmo e/ou zombaria são formas, mesmo que algumas vezes ditas cômicas, de
humilhar e/ou ridicularizar alguém ou alguma ideia. A ideia de ironia vem do
grego antigo “εἰρωνεία” (“eironēia”) e significa, em síntese, “dissimulação'”.
É entendida, conceitualmente, todavia, de duas formas distintas: a ironia
filosófica; e a ironia literária.
1- Na forma filosófica, embora
existam outros filósofos considerados irônicos (Voltaire, Kierkegaard, etc.), o
conceito de ironia está especificamente atrelado ao filósofo Sócrates,
introduzido este por Aristóteles, entendido como Método Socrático. Este, por
sua vez, refere-se especificamente ao recurso epistemológico utilizado por
Sócrates, descrito nos diálogos platônicos, e que, em síntese, significa
simular ignorância, isto é: fazer perguntas fingindo aceitar as respostas do
interlocutor (oponente), até que este chegue a uma contradição e perceba,
dentro do processo dialógico ou mesmo fora dele, os paradoxos, disparates ou
absurdos do seu próprio raciocínio. Sócrates, sendo assim: a- Criou um método
de busca pelo conhecimento, e não propriamente uma figura de linguagem; b- Criou
um caminho, pode-se dizer didático, sem ridicularizar quem quer que fosse, para
poder questionar, contradizer, refutar, problematizar, e, na mesma via, ir de
encontro à construção de conceitos; c- Criou uma técnica filosófica para poder
romper com o estado aporético, ou seja, com o impasse na busca do entendimento,
visando sempre trazer à luz (maiêutica) o axioma (teoria da reminiscência).
2- Na forma literária, por outro
lado, a ironia apresenta-se como um modo de expressão ou figura retórica por
meio da qual se busca dizer o contrário daquilo que se quer dizer. Isto é, por
meio do uso dela, cria-se uma pausa visando buscar a reflexão do leitor ou
interlocutor: uma reflexão sobre aquilo que se escreve ou diz e aquilo que
realmente se pensa. A ironia, dentro desse contexto, é muitas vezes usada como
forma de crítica, censura ou denúncia.
II
Tanto dentro do conceito de ironia
filosófica quanto literária, porém, existem três diferentes tipos de expressões
ou manifestações irônicas, a saber:
1- A ORAL: é quando alguém quer dizer uma
coisa mas diz outra, ou seja, fala o contrário do intencionado.
2- A DRAMÁTICA
OU SATÍRICA: Numa cena ou diálogo, a plateia ou outro ouvinte qualquer entende
o significado da situação, palavra ou expressão usada – menos o interlocutor ou
personagem.
3- A DÍSPARE OU DE DISPARIDADE: o resultado da ação, algumas vezes
cômico, outras trágico, é diferente ou contrário ao planejado ou esperado.
Muitos, diante desse tipo de ironia, habituaram-se a, por exemplo, chamá-la de
“ironia do destino”.
III
O livro, uma antologia de ensaios, aforismos,
crônicas, contos e poemas, aborda temáticas diversas: política, justiça,
educação, economia, aspectos sociais, machismo, feminismo, amor, felicidades,
etc. Embora traga algo de provocação em viés literário, a ideia (ou o sentido)
de ironia nele contido é filosófica, ou seja, está ancorada nos axiomas ou
princípios maiêutico-metodológicos de Sócrates.
Edição: (1) (2017)
ISBN: 978-1977624987
Número de páginas : 131